sexta-feira, 6 de novembro de 2020

São Nuno de Portugal, um santo original

 


São Nuno Álvares Pereira é um santo muito original, precisamente porque, como foi tão normal, foi muito diferente da maioria dos outros santos e, por isso mesmo, muito parecido a todos nós.

 “Quem tentar conhecer a maioria dos Santos da Igreja Católica, não pode deixar de concluir que a maioria dos bem-aventurados não coincide com o perfil do cristão corrente e normal.

Por exemplo, quase todos os fiéis católicos são casados, mas entre os santos canonizados abundam, pelo contrário, os celibatários, sacerdotes ou religiosos. Raros são os santos que casaram e tiveram filhos, como poucas vezes são referidos os que desempenharam alguma profissão civil, e mesmo entre estes, são poucos os que se dedicaram à vida militar que aparentemente não é conciliável com a condição de santo.

Santidade e pobreza são conceitos que se implicam mutuamente, e por isso desconhecemos um santo multimilionário.

Ora São Nuno de Santa Maria, antes de ser frade carmelita, foi tudo isso. Casou e teve vários filhos, entre os quais a que, pelo seu casamento, viria a ser a primeira duquesa de Bragança. São Nuno Álvares Pereira foi militar de profissão, tendo chegado a condestável do reino, quando a independência nacional estava comprometida, pelo casamento da herdeira do trono de Portugal com o então rei de Castela. O Santo Condestável não só foi um bravo guerreiro, mas também um dos homens mais ricos de Portugal, graças às avultadas doações que lhe foram feitas pelo rei, em justa recompensa pelos seus inestimáveis serviços. Enquanto a grande maioria dos santos desdenha as honras e títulos humanos, São Nuno Álvares Pereira não apenas aceitou a elevada condição de generalíssimo, como também os privilégios inerentes à grandeza do reino, que lhe competiam por força dos três títulos condais – de Arraiolos, Barcelos e Ourém – que lhe foram concedidos por el-Rei D. João I e que, desde então, são apanágio da Casa de Bragança.

Talvez alguém possa criticar que estas características da sua vida são alheias à sua santidade, a que Nun’Álvares teria acedido apenas quando renunciou a todos esses cargos, títulos e bens materiais, para humildemente professar como religioso carmelita.

É verdade que a canonização de Frei Nuno de Santa Maria muito deve a essa última etapa da sua vida terrena. Mas seria errado pensar que foi só então que a sua vida cristã alcançou os limiares da perfeição evangélica. Muito antes, já D. Nuno Álvares Pereira dera sobejas provas da qualidade da sua fé, da autenticidade da sua esperança e da pureza da sua caridade: como marido santo que foi de sua mulher, como santo progenitor de seus filhos e netos, como santo general do exército, como santo conselheiro do rei, como santo fidalgo da corte, e até – espante-se! – como santo latifundiário! Não foi santo apesar destas suas circunstâncias, mas precisamente através delas, na medida em que são também santificáveis, como aliás todas as situações familiares e profissionais honestas.

O mundo tem muita necessidade de exemplos de santidade na vida religiosa, como Frei Nuno de Santa Maria. Mas são talvez mais urgentes os modelos de excelência cristã na vida matrimonial, familiar, profissional, económica e política, como São Nuno Álvares Pereira.”

(P. Gonçalo Portocarrero de Almada)

Que o Santo Condestável, abençoe o reino que defendeu com a sua espada e seja exemplo para cada um de nós, escuteiros adultos que vemos nelo modelo de vida cristã e o elegemos como patrono da Fraternidade Nuno Alvares.

Inspiremo-nos em São Nuno de Santa Maria para enfrentar os tempos atuais que mais do que nunca nos exigem a renúncia do conforto pessoal em troca do bem-estar da comunidade.